É arriscada, porém coerente, a atitude do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva de não se entregar à Polícia Federal, mesmo com a expiração do prazo determinado por Sérgio Moro.
Lula não se entregou porque seus advogados buscam um novo empenho, duplo, para evitar a prisão, recorrendo juridicamente ao Superior Tribunal de Justiça e ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.
O juiz paranaense determinou que Lula se entregasse "espontaneamente" até as 17 horas de hoje, o que não ocorreu.
Moro prometeu que Lula não seria algemado e que a cela que o abrigaria seria "humanizada". O ex-presidente ficaria numa cela individual.
Mesmo assim, Lula, que chegou a dizer que aceitaria ser preso, preferiu ficar o tempo todo no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde ele iniciou sua trajetória política.
Populares também fizeram vigília, fora do local, em apoio e proteção ao ex-presidente.
Já a direita anti-petista, diante da expiração do prazo, "comemorou" com ironia, dizendo que Lula é "foragido".
Não, Lula não é foragido. Tanto que permaneceu no lugar onde estava desde ontem à noite. Ele podia ter sido pego, nessas condições.
A Polícia Federal ainda não decidiu prendê-lo, mas já existem atiradores de elite posicionados na sede da Polícia Federal, em Curitiba.
A cautela que a PF está tomando tem a ver com o papel histórico que aqueles que pretendem prender Lula irão desempenhar na posteridade.
O grande problema é o risco de batalha com os apoiadores de Lula e a possibilidade de prender mais gente.
Embora seja uma atitude bastante enérgica, ela poderá causar um desgaste na Operação Lava Jato e seus envolvidos.
Está explícito o grande apoio popular a Lula, e o grito do povo parece ressoar em altíssimo volume, causando ecos até na mídia venal.
A mídia venal cobra a rendição de Lula, mas está perplexa com o grande apoio popular. A Globo sabe também que agravará o seu desgaste com esta postura.
A Globo já perdeu três profissionais de destaque: o jornalista Tonico Ferreira e as atrizes Malu Mader e Giulia Gam. A corporação anda perdendo uma série de profissionais veteranos, que sabem muito bem o aparelhamento ideológico da emissora.
O jornalismo da Globo está cada vez menos profissional, só restando algumas exceções. E essas exceções, certamente, não são profissionais como Merval Pereira, Miriam Leitão e William Bonner, este quase um Sílvio Santos do telejornalismo, no sentido da animação.
A Globo é obrigada a engolir a popularidade de Lula, como engoliu as manifestações de Diretas Já (que teve a participação do próprio petista), em 1984.
Não se sabe ainda como será o desfecho da situação. Aparentemente, nada foi feito ainda no sentido de prender ou não o ex-presidente, embora a Polícia Federal anunciou que admite uma negociação.
Muita coisa ainda vai ocorrer, provavelmente.
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