Uma longa reportagem de Joaquim de Carvalho, do Diário do Centro do Mundo mostra um escândalo envolvendo o dono da Jovem Pan, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha.
Ele acabou desmentindo a acusação de que sua ex-mulher, Flávia Eluf, teria furtado bens do ex-casal após o divórcio, que havia sido difundida no Facebook, em julho de 2016.
A acusação se revelou falsa, e Tutinha e sua filha de outro casamento, Daniela, que apoiou o pai na acusação contra a madrasta, foram processados, por ação civil movida por Flávia, por danos morais.
Flávia também reagiu e recorreu ao Ministério Público Federal para lhe entregar um pen drive com as atividades financeiras do ex-marido, com quem esteve casada entre 2006 e 2015.
O pen drive contém acusações de crimes financeiros contra o empresário da Jovem Pan.
Segundo a denúncia, Tutinha seria acusado de evasão de divisas, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
A denúncia também aponta o suposto envolvimento de três filhos adultos de Tutinha e uma prima, Maria Alice Carvalho Monteiro de Gouvea.
Maria Alice teria colaborado de forma a dissimular o nome de Tutinha no esquema.
Há um monte de coisas na reportagem de Joaquim de Carvalho, cujo linque está no alto desta postagem, para quem quiser saber mais.
O escândalo complica a vida de Tutinha, cuja rádio Jovem Pan foi um paradigma de linguagem radiofônica, incluindo as vinhetas "espaciais", que influenciou da 89 FM de São Paulo até a Rádio Metrópole, de Salvador.
Um braço-direito de Tutinha, Alexandre Hovoruski, foi exportar o "padrão Jovem Pan" nas rádios 89 e Rádio Cidade.
Hoje a 89 FM é um clone "roqueiro" da JP. Os próprios Tatola e Zé Luís parecem tomados do "estado de espírito" da rádio de Tutinha.
Tutinha também está associado à popularização da gíria "balada".
Sim, isso mesmo. Quando você fala "a gente vai pra balada", "e nós na balada na maior pegação", ou então o cacófato "nós vamos pra balada c'a galera", não finja que não foi influenciado pela JP.
No final dos anos 90, Tutinha queria testar a influência de uma gíria para ver como a hoje reacionária Jovem Pan conseguia fazer a cabeça da juventude brasileira.
Nessa época, Luciano Huck era seu contratado e estava entrando na Rede Globo, recém-saído da Jovem Pan.
Huck fazia o Torpedo. E aí Huck e Tutinha resolveram popularizar a gíria "balada", jargão privativo das casas noturnas de gente rica da Zona Sul de São Paulo.
O programa Na Balada, da Jovem Pan FM, surgiu nessa época, para fixar a expressão no imaginário dos jovens noctívagos.
Um internauta me informou, nos tempos do blogue O Kylocyclo, que a gíria "balada" existia em São Paulo em 1991.
Era gíria de DJs, de gente riquinha, de pessoas de "boa aparência". A gíria "balada" remete à um eufemismo, "bala", referente a pílulas alucinógenas consumidas em festas noturnas.
Uma gíria bem "maliciosa" como aquelas frases nas camisetas polêmicas da série "Use Huck" da Reserva.
A gíria "balada" foi popularizada pelo consórcio Huck/Jovem Pan/Globo, e virou uma grande aberração coloquial.
Era uma "gíria" sem a vida própria das gírias de verdade, que têm seus limites de tempo e espaço, com vida curta e faladas apenas por pequenos grupos sociais.
A gíria "balada" era a Gíria do Terceiro Reich, se impondo aos dicionários, querendo estar acima das tribos, acima dos tempos, empurrada até em noticiários considerados "sérios".
Tinha um lobby próprio, tinha seu próprio departamento de marketing, fazia seu próprio mershandising.
A gíria "balada" carregava um ideal conservador e consumista de lazer juvenil.
O mais surreal é que, quando eu critiquei, em 2007, a gíria "balada", sofri ataque de cyberbullying (valentonismo digital).
Fascistas digitais, que depois defenderiam o "Fora Dilma", me patrulharam porque eu questionava a gíria "balada".
Como na "novilíngua" do livro 1984, de George Orwell, a gíria "balada" queria empobrecer o vocabulário juvenil, sendo uma única "gíria" que substituiria várias expressões.
"Balada" virou uma ideia vaga: apresentação de DJ, festa noturna, jantar entre amigos ou uma simples frequência numa boate.
Assim como "galera" que, como "novilíngua", queria substituir as palavras "turma", "família" e "equipe".
De vez em quando, certos setores das esquerdas falam a gíria "balada", na boa-fé, sob o pretexto de que os amigos tais e as amigas quais "falam no cotidiano".
Cuidado. É assim que se difunde as ideias e os valores da mídia venal.
O poder de Luciano Huck e Tutinha aumentaram por causa de uma única gíria, que acabou dominando a juventude e desviando-a para o caminho do reacionarismo nas redes sociais.
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