As inúmeras e, infelizmente, incessantes, ocorrências de feminicídio por motivação conjugal que acontecem no Brasil apontam para um detalhe desagradável para muitos.
A maioria dos casais que encerra suas relações tragicamente, com a ação sanguinária dos homens contra mulheres, se conheceu nos ambientes da chamada "vida noturna".
É o que o jargão popularizado por Tutinha, da Jovem Pan, e Luciano Huck define como "balada".
A ocorrência de feminicídios, conforme uma observação nas ocorrências policiais, revela que muitos casais envolvidos nessas tragédias, em porcentagem provável de 90%, teriam se conhecido em bares e boates, ainda que, nos últimos anos, as redes sociais tivessem contribuição crescente.
A paquera e a busca pela vida amorosa foram privatizadas e muita gente não percebe.
Enquanto se "criminaliza" as paqueras em locais públicos como bibliotecas, faculdades e praças, ou mesmo em passeios em shoppings etc, se "santificam" as paqueras em bares.
Até setores das esquerdas, infelizmente, caem na pegadinha, até porque muitos deles tomam cerveja em bares e boates.
Há uma mitificação nas casas noturnas, nos bares e boates, que os nivela a antigas adegas europeias nos quais amigos se reúnem para beber e conversar.
Imagina-se que todos frequentadores de boates são pessoas confiáveis, altruístas e realmente interessantes.
Grande engano. Em ambientes onde se consome muito álcool e entorpecentes, a última coisa que se pode esperar é confiabilidade.
Há muita encenação. Pessoas traiçoeiras podem se passar por gente divertida, espirituosa, amável, porque, como diz o ditado, "na noite, todos os gatos são pardos".
A maioria dos casos de feminicídio surge em paqueras onde homens egoístas e de vida bastante obscura se tornam, momentaneamente, muito gentis e simpáticos.
É claro que, no lado sexual oposto, ocorre também coisas traiçoeiras, como certas mulheres que paqueram rapazes "inofensivos", vão para um hotel transar com eles e, depois, roubam todo seu dinheiro e celular.
Mas o grosso mesmo está nos homens, que seduzem as mulheres para uma relação amorosa na qual os interesses deles é que prevalecem.
Na rotina, eles se mostram insensíveis, egoístas, exigentes, problemáticos, muito diferentes dos "caras legais" moldados por goles de cerveja.
Num dado momento, eles se revelam insuportáveis. Mas aí é tarde demais. As mulheres pedem separação, os homens não gostam, pinta uma discussão e eles as eliminam.
É uma péssima ideia o establishment da vida social reservar justamente as boates e bares como ambientes de paqueras.
É certo que homens perigosos existem em qualquer lugar público ou privado, mas é nos ambientes privados das boates e bares que eles são muito mais comuns de se encontrar.
Boates e bares não são ambientes públicos, mas privados, porque, embora qualquer um possa ir a esses locais, é preciso ter um bom dinheiro para comer e beber, e não se fala da grana do deslocamento por transporte.
Afinal, muitas das boates só são acessíveis por táxi, pois se situam em ruas não servidas por ônibus.
E a simples distância de poucos quarteirões já é perigosa pelo potencial risco de um assalto.
Daí o caráter privado dos bares e boates, da privatização da chamada "vida noturna" e, pasmem, também da "vida amorosa".
Isso atende mais aos interesses dos proprietários de casas noturnas e da indústria de bebidas alcoólicas, que faturam com essa restrição das paqueras a esses ambientes.
Afinal, isso cria situações em que pessoas traiçoeiras, por uma questão de uns goles de bebida alcoólica ou a ação de um entorpecente, parecem mais "controladas", "interessantes" e "amáveis".
O que se deve fazer é aplicar o "Chega de Fiu-Fiu" nos bares e boates.
É desvincular a paquera nesses ambientes marcados pela bebedeira e pelas drogas.
Desvinculando a paquera nesses lugares, é possível que se previna uma boa parcela de feminicídios que tantos traumas e revoltas causam na sociedade.
O álcool não pode ser o combustível do amor. Assim como as drogas também não podem ser.
É necessário uma mudança de valores no que se diz aos padrões sociais de vida amorosa, de maneira a evitar que mais casais errados se formem, com alto risco de tragédias criminais.
Só mesmo abolindo a subordinação das paqueras à "vida noturna" para prevenir, pelo menos em 60%, as ocorrências infelizes que custaram a vida de muitas mulheres inocentes.
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