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DO BREGA AO BRETAS E O SILÊNCIO DOS ARTISTAS AO CASO QUEERMUSEU


Numa época em que a provocatividade se torna uma mercadoria vendida por fenômenos que vão de Liniker e Inês Brasil até MC Carol, a solidariedade ao Queermuseu foi muito pálida.

Os movimentos sociais deram solidariedade ao evento que ocorreu no Santander Cultural, em Porto Alegre, e que teve sua temporada abreviada após os protestos raivosos do Movimento Brasil Livre.

Correu uma notícia de que Belo Horizonte está interessada em abrigar o evento.

Mas o cancelamento em Porto Alegre causou um sério estrago: fortaleceu os neofascistas que fizeram campanha contra a exposição.

Enquanto isso, há um grupo misto de famosos, entre atores, músicos e políticos, uns progressistas, outros ligados às campanhas do "Fora Dilma", que se juntaram por iniciativa da empresária Paula Lavigne.

Fizeram um jogo de cena defendendo um "Fora Temer" que, de midiático demais, não teve os efeitos concretos esperados.

Que fenômenos midiáticos podem se propagar como se fossem "o ar que respiramos", isso não só é possível como é frequente.

Como a gíria "balada", patenteada pelo consórcio Jovem Pan / Rede Globo / Luciano Huck.

Mas tem que haver jogo de cintura. Paula Lavigne não é Luciano Huck.

Huck teve um jogo de cintura para criar um lobby que fizesse com que uma gíria de festas clubber de gente riquinha fosse falada até por empregadas domésticas e esqueitistas.

Mas fica difícil o establishment caetânico empurrar suas causas.

Ainda mais quando não trouxe efeitos esperados toda a campanha de "combate ao preconceito" que aparentemente confraternizava brega-popularescos e emepebistas.

Era um contexto que se revelou, depois, um grande jogo de interesses.

Do dueto de Caetano Veloso com Odair José, na primeira glamourização dos bregas, ao apoio que famosos (e o próprio Caetano) deram ao juiz Marcelo Bretas, muita coisa ocorreu.

E isso envolveu a "conciliação" de bregas e emepebistas, que se revelou depois uma aliança de conveniência, em que o verdadeiro coitado era o emepebista, e não o brega, que era o "rei da cocada preta" da ocasião.

O emepebista fazia dueto com um ídolo brega visando tocar nos festivais em redutos de bregalização cultural e fortes interesses comerciais ferrenhos.

Se, por exemplo, Nando Reis não tocar com Zezé di Camargo & Luciano, o ex-titã não poderá tocar num festival do interior de Goiás.

Recentemente, Renato Teixeira disse acreditar que o "sertanejo universitário" possa ter "a mesma força artística" da MPB nos tempos áureos.

Maneira de dizer. Renato não quer é ficar fora de um mercado dominado pelos "sertanejos".

Os bastidores mostram o quanto o jabaculê brega-popularesco buscava novas estratégias diante de um rádio FM menos musical (porém ainda mais jabazeiro, só que em outras áreas).

Tinha acadêmico fazendo tese de pós-graduação com a "grana de fora" do jabaculê brega-popularesco, escondida sob os parcos recursos da CAPES.

E jornalista vendo "feminismo" nas dançarinas de "funk" e "pagodão baiano" visando aquele passaporte para viajar de graça por todo o Brasil.

É um cenário que gerou os intelectuais "bacanas", ou seja, intelectuais que queriam ser simpáticos e, se possível, populares, num país que discrimina os verdadeiros intelectuais.

E o pessoal falava tanto em provocatividade, inquietação, enfatizando demais o ato de determinados "artistas" ou "celebridades" incomodarem a sociedade com o tal "mau gosto popular".

Diante da condenação dos reaças a obras como "Criança Viada", de Bia Leite, os "bacanas" ficaram em silêncio.

Há mais pedofilia, zoofilia e espetacularização da causa LGBT no "funk", na axé-music e outros eventos, e não há uma contestação a esses eventos.

Já vi intelectual dizer que a pedofilia no "funk" era uma forma de "inicialização sexual" das adolescentes.

Enquanto isso, uma colagem de imagens nem tão pornográficas como "Criança Viada", feita para estimular a reflexão e o debate, é massacrada na Internet.

A provocação só é considerada "saudável", para a sociedade modernosa quando ela enfatiza o "mau gosto", quando incomoda por incomodar.

Quando o mero "mau gosto" se torna um fim em si mesmo, a sociedade "parafrentex" aprova e os reaças até reprovam, mas sem fazer muito barulho.

E aí vemos o resultado. Uma intelectualidade cultural tendenciosa, arrivista, burocrática, e um meio artístico que orbita em torno dessa elite pensante.

É uma intelectualidade viciada, voltada à "sociedade do espetáculo" e à provocação como um fim em si mesmo.

Para ela, o que importa é a "provocação" que não provoca, o "debate" que não debate, a "reflexão" que não reflete.

No fundo, consumo de sensações desagradáveis, criação de falsas polêmicas, ou verborragia "etnográfica" ou "guevarista" em torno do "sucesso popular do momento".

Essa intelectualidade tem como queridinho um Zezé di Camargo que disse que "nunca houve ditadura" no Brasil.

Só falta a intelectualidade "bacana" dizer que a ditadura militar teria sido uma "tragédia teatral pós-moderna".

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