Certas pessoas têm a vida mansa.
Lembremos do impeachment de Dilma Rousseff, no qual todas as tentativas foram feitas para salvar o mandato da presidenta.
Tudo foi em vão e a presidenta encerrou de vez o mandato no dia 31 de agosto de 2016, cerca de três meses após ser afastada do governo.
E isso por conta de boatos de manipulação de dados fiscais, uma prática considerada normal e feita por vários presidentes da República.
Nem apelos de parlamentares estadunidenses e várias celebridades fizeram impedir esse desfecho deprimente.
Ninguém veio dizer que não se podia ceifar um mandato de forma leviana, mas respeitar uma presidenta democraticamente eleita.
Agora, ocorre o contrário.
Aécio Neves, senador que parece ter um apetite fora do normal para pedir propinas, como afirmaram vários delatores da Operação Lava Jato, voltou ao Senado e fez um discurso pomposo.
O neto de Tancredo Neves, que em vez de honrar a herança do avô, se envolveu em vários esquemas de corrupção.
Corrupção local, em Minas Gerais, corrupção nacional, corrupção em São Paulo e outros Estados.
Mensalão tucano, petrolão, Furnas, Correios etc.
Apesar disso, Aécio era blindado e só recentemente uma parte da mídia venal passou a aparentemente se opor a ele.
Essa oposição não seria por algum despertar político, mas uma necessidade da grande mídia dar uma falsa imagem de imparcial e obter protagonismo com a crise política atual.
Aécio foi liberado para voltar ao Senado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello.
Mello usou argumentos que poderiam ter sido usados para Dilma, como afirmar que um mandato político é coisa séria para ser extinto com leviandades.
Aí Aécio retornou e foi recebido com pompa pelos colegas aliados no Congresso Nacional.
Com seu primeiro discurso após retomar o mandato, Aécio caprichou no coitadismo, lembrando o ex-presidente e também colega de casa, Fernando Collor de Mello.
Fez um discurso choroso tentando convencer a opinião pública de sua "inocência".
Disse que não cometeu crime algum e apenas "assumiu" o erro de se envolver nessa "trama ardilosa" (leia-se a crise política do governo Temer).
A volta de Aécio é comemorada por seus aliados como a volta de um artilheiro que havia sido suspenso de jogar para o seu time.
Aécio é considerado um dos craques das tramas políticas em favor da plutocracia.
O Judiciário ainda atua de forma desigual, e o governo Temer está se arrastando, apesar de agonizante.
Temer lembra a barata do livro que estou lendo, A Paixão Segundo G. H. (1964), de Clarice Lispector.
Neste livro a barata é atingida pela batida da porta do armário, feita pela protagonista assustada, e mesmo com o corpo partido o inseto insiste em apresentar sinal de vida, ainda que agonizante.
O temeroso presidente tenta fazer agrados a deputados federais para livrá-lo de processo de impeachment.
A Câmara dos Deputados aprecia a denúncia lançada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot contra o presidente, baseada em delações de executivos da J&F, administradora da JBS.
O relator foi escolhido, Sérgio Zveiter, que, mesmo sendo do PMDB, promete uma atuação "independente".
Zveiter diz que "não aceita pressão" e que atuará "pelo Brasil".
Na prática, ele terá que escolher entre seu protagonismo e a conveniência política de salvar Temer.
Vivemos uma briga de delações e protagonismos, com todos os poderes desmoralizados: Executivo, Legislativo, Judiciário, empresariado e grande mídia.
Tudo isso é um jogo e, embora vários corruptos sejam denunciados, a questão não é o combate à corrupção, mas a disputa de quem protagonizará algum triunfo histórico para o país.
E Aécio Neves e Michel Temer ainda continuam na disputa para obter seus protagonismos.
O povo brasileiro sai perdendo com essa gente.
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