Hoje ocorrem mais uma etapa de manifestações contra Temer, as reformas e outros atos da plutocracia, em várias cidades do Brasil.
Cabe, portanto, uma reflexão.
Surgem muitas discussões a respeito da falta de ativismo popular nos últimos tempos.
O governo Temer virou uma tragicomédia de erros gravíssimos, piores do que os erros do governo da antiga titular, Dilma Rousseff, e não há panelaços, não há pressão popular ou coisa parecida.
As manifestações contra Temer ocorrem, mas parecem protestos pontuais.
Eles trazem efeito relativo, de grande descontentamento popular, mas insuficiente para acuar o presidente temeroso, que parece triunfante governando às costas do povo.
O Poder Legislativo também aprova propostas que não somente contrariam os interesses populares, mas também causam profundos arranhões às leis e até à Constituição Federal de 1988.
E o que se observa é que, nas esquerdas, há o vício da espetacularização dos protestos populares.
Diferente do Primeiro Mundo, em que um Jean Baudrillard e um Pierre Bourdieu podem alcançar o status acadêmico por doutorados e palestras, não há um intelectual do nível que tenha visibilidade plena denunciando os vícios culturais no Brasil.
Pelo contrário. O que há é uma geração apologista da "cultura de massa", vinda dos porões da Globo, Folha e PSDB que, em troca de uma grana da Lei Rouanet, se associa tendenciosamente aos círculos de esquerda.
Daí que aqui problemas como a overdose de informação e a sociedade do espetáculo são vistas como "grandes virtudes" na sociedade brasileira.
Aqui um Baudrillard e um Bourdieu não passam sequer do mais raso processo de seleção de mestrado. Quando muito, conseguem um pálido Bacharelado, uma pálida Licenciatura.
Fica complicado denunciar as armadilhas que as corporações midiáticas trazem além do âmbito politico e jornalístico.
Em muitos casos, as esquerdas endossam os embustes que são lançados pela mídia hegemônica no âmbito cultural.
Aceitam sem críticas e até se ofendem, achando que criticar os fenômenos "populares demais" é discriminar as periferias e condenar a inclusão social.
Mas essa "inclusão social" de mentirinha, na verdade uma campanha de aceitação das elites de caricaturas espetacularizadas da população pobre, nada contribuiu em favor das esquerdas.
Pelo contrário. Os "coxinhas" acabaram surgindo no meio das pregações intelectuais dos jornalistas culturais, antropólogos, historiadores e cineastas "mais bacanas".
Os maiores defensores da bregalização cultural nas mídias sociais são os mesmos reaças que depois pediam até intervenção militar.
Num primeiro momento, eram de "centro-esquerda" nas suas páginas do Orkut, fingiam condenar o imperialismo e despejavam risadas histéricas contra figuras como George W. Bush, enquanto se passavam por "admiradores" de Che Guevara.
Num segundo momento, porém, usavam como desculpa a "desilusão com o governo Lula" para deixar suas máscaras caírem.
O "esquerdismo" dos sociopatas era uma forma de atrair apoio de trotskistas, psolistas ou mesmo petistas para depois convertê-los nos "indignados" que vociferaram contra Dilma.
E tivemos muitas manifestações desse tipo, embora uma grande farsa e não tão numerosas assim.
Mas elas tinham um suporte midiático que anabolizava sua projeção.
De repente, uma passeata de umas duzentas pessoas contra Dilma Rousseff virava "protesto de um milhão" pelas mentiras travestidas de "informação jornalística" na mídia hegemônica.
E como as esquerdas reagiam a isso? De uma forma às vezes correta, mas em outras bastante equivocada.
Como ovelhas que apelavam para os tigres para combater as raposas e eram devoradas por eles, as esquerdas recorreram ao "funk" para impedir a votação do impeachment no 17 de Abril de 2016.
Deu errado. A imprensa internacional, percebedora das coisas, viu que tais manifestações enfatizaram mais a "alegria e a dança do funk" do que o protesto em si, cujo sentido foi praticamente anulado.
Mas isso deu mais alegria aos deputados que, vendo o barulho do "baile funk" de Copacabana abafar a manifestação, puderam votar sossegados pelo início da expulsão de Dilma do governo.
Há um vício nas esquerdas de querer espetacularizar as manifestações.
O vício de botar o humor como um fim em si mesmo, ou apelar para movimentos duvidosos na esperança de obterem a visibilidade que acaba ficando perdida.
As manifestações LGBT, por exemplo, enfatizam mais homens vestidos de drag queens e mulheres zangadas e duronas.
Mais parecem micaretas do que manifestações por reconhecimento social das periferias.
O vício das esquerdas também é o acolhimento de "aventureiros" que se dizem "amigos do esquerdismo".
Não sabem que o esquerdismo pode repetir, com o "funk", o desastre que Cabo Anselmo havia causado entre a crise do governo João Goulart e as lutas armadas nos primórdios do AI-5.
Deve-se repensar os protestos contra Temer sem espetacularização nem acolhimento de "aventureiros" da causa progressista.
Eles são tão nocivos quanto o vandalismo dos black blocs que "encerrou" as manifestações de rua de 2013 para cá.
Não prejudicam pelos danos materiais, mas pelo esvaziamento dos propósitos de manifestação.
O exotismo de drag queens e outros "provocadores" de plantão e a "descida até o chão" desviam o foco e criam polêmicas desnecessárias.
Podem até mesmo eliminar o sentido de protestos contra a reforma trabalhista e outros males do governo Temer.
Pois o propósito dos funqueiros, "mui amigos" das esquerdas, é este: puxar a polêmica para si, discutindo se podem rebolar mais ou rebolar menos, e deixar que passem adiante os processos de desmonte do Estado e dos direitos sociais dos brasileiros.
Foi assim que Cabo Anselmo desviou o foco, diante da polêmica rasa de superestimar algumas questões sobre militares de baixa patente.
Os funqueiros se infiltram nas esquerdas, desviam o foco de debates para eles mesmos, e depois de conseguir o apoio que queriam, apunhalam as esquerdas pelas costas e vão comemorar suas vitórias nos palcos da Globo.
O risco é do esquerdismo morrer e os funqueiros estarem protegidos com a plutocracia, abraçados a Luciano Huck, Aécio Neves, João Dória Jr., William Waack e outros.
Devemos repensar o ativismo das forças progressistas. Sem vandalismo, espetacularização e "aventuras" popularescas e sensacionalistas.
O Brasil está numa situação muito grave e é preciso pensar a manifestação não sob o prisma da "sociedade do espetáculo", mas da necessidade do povo brasileiro recuperar os direitos que começam a perder no dia a dia.
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