Michel Temer quer começar o mês de outubro fazendo propaganda de seu governo.
É natural e compreensível.
Com um mês de efetivação, ele julga que é hora de "governar pra valer".
Tentando desfazer incidentes como as declarações polêmicas do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, e da Justiça, Alexandre de Moraes, Temer designou um porta-voz de seu governo.
Outro xará meu, Alexandre Guido Parola, que havia sido porta-voz do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Ou seja, mais um para reforçar o DNA tucano do governo Temer.
O temeroso presidente tenta ser um "grande estadista", e escolheu como palanque nesta "nova fase" um fórum de empresários promovidos pela revista Exame, do Grupo Abril.
Tinha que ser um veículo da grande mídia patronal, sobretudo a Abril, que receberá muito mais subsídios do governo temeroso do que o valor que deixa de ser investido nos blogues progressistas.
Temer fez o discurso de sempre: prometendo levar o país ao "crescimento", através do "ajuste fiscal" e outras medidas previstas pela "Ponte para o Futuro", nome de fantasia do Plano Temer.
Ele apenas minimizou o discurso otimista lembrando da "tese da herança".
Evocando a crise econômica, ele disse não ter sido culpado por ela.
Atribuiu a crise à antecessora, Dilma Rousseff, de quem Temer foi vice. Ele citou a suposta acusação contra Dilma, o crime de responsabilidade fiscal.
Disse que a irresponsabilidade fiscal é um "veneno que corrói os direitos sociais", e disse que o momento exige "um combate ao populismo fiscal".
Culpou Dilma também pelos 12 milhões de desempregados.
E veio com a falsa modéstia: "Se eu ficar impopular, mas o Brasil crescer, me dou por satisfeito".
Ele desmentiu que iria cortar os direitos dos trabalhadores.
"Estamos construindo uma fórmula pela qual os direitos já consolidados possam ser mantidos, mas aqueles que não completaram o direito possam submeter-se a nova regra", disse Temer.
Ele acha que seu governo é "ousado" e que suas medidas conquistarão o apoio popular.
Falar é muito fácil e o verbo "temer" sempre ronda a cabeça dos trabalhadores, diante de tantas experiências em governos conservadores, sobretudo a ditadura militar.
A lógica do PMDB é falar uma coisa e fazer outra.
É a regra dos peemedebistas, sobretudo os cariocas e os que cercam Temer - podendo ser um Romero Jucá vindo lá de longe, de Roraima, seu Estado adotivo - , dizer que não ameaçará direitos e, na hora H, dar seu golpe de misericórdia.
O governo Temer não é confiável.
Ele não é legítimo, não é popular e nunca passaria pela livre consulta das urnas. Nem de longe é carismático.
Admitir que é impopular e trocar popularidade por crescimento econômico é demagogia, um populismo às avessas.
Uma falsa modéstia que se encaixou bem no evento empresarial da revista Exame.
Afinal, Temer falava com o patronato e, pelo jeito, seus verdadeiros patrões.
Temer atua como o mordomo da plutocracia, e vai servir os interesses das elites.
E vai cortar "aos poucos" os direitos dos trabalhadores, sem que eles percebam, o que é difícil.
Só a perda salarial de cerca de 2,4% para cada bancário já impulsionou a categoria para uma greve que ultrapassou três semanas.
Só mesmo a mídia patronal para comemorar o discurso de Temer. Principalmente o anfitrião Grupo Abril.
Mas Temer não traz esperança, mas temor. Como diz o nome do presidente.
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