Uma reação exagerada vitimou o ex-deputado Eduardo Cunha.
Na noite da última quarta-feira, 12, ele estava no Aeroporto Santos Dumont quando foi perseguido por um grupo.
O grupo já o havia observado uma semana antes, e Cunha parecia não ter se intimidado.
No feriado recente, porém, o grupo resolveu agredi-lo, não apenas dizendo "pega ladrão", até que uma senhora de 56 anos atirou um calçado sobre o político.
A senhora, a princípio, pensou que era um assaltante, mas depois viu que era o deputado Cunha.
De origem italiana, ela disse que faria o mesmo se o ex-presidente Lula passasse pelo mesmo aeroporto.
O ato parece divertir muita gente, mas é um vandalismo terrível.
Eduardo Cunha, com certeza, representa o que há de deplorável e abjeto na política brasileira.
Mas isso não significa que ele mereça sofrer um ataque destes.
Isso já é desordem, é barbárie.
Se as pessoas estão com raiva de Cunha, façam passeatas e ocupações para pedir sua prisão.
Contra Eduardo Cunha, já é suficiente vaiar e até chamá-lo de "ladrão", mas sem perseguir como se estivesse ameaçando um linchamento.
Protestar é necessário, mas pelo menos que se peça maior respeito às leis.
Com a agressão, instala-se a barbárie, uma catarse contagiosa, mas muitíssimo perigosa.
Me lembro quando via, no fórum de mensagens da Rádio Cidade "roqueira", em 2000 e 2001, ver os tais "roqueiros" pedindo o fechamento do Congresso Nacional sob a desculpa do "combate à corrupção".
Queriam extinguir o Legislativo, mas hoje talvez o aceitem desde que atue apenas contra o PT.
Os "rebeldes" anteciparam o reacionarismo do Movimento Brasil Livre, Revoltados On Line e similares em quinze anos.
É um exemplo da catarse juvenil, capaz de causar até incêndio em prédios públicos.
Isso é muito ruim, e acaba sendo uma propaganda dos corruptos pelo avesso.
Com atos exagerados, os corruptos acabam tendo seus momentos de vítimas e podem se reabilitar facilmente.
A facilidade com que corruptos podem se reabilitar é algo que as circunstâncias diversas, seja o vandalismo ou a memória curta, podem fazer.
O ex-prefeito de Salvador, Mário Kertèsz, espécie de Paulo Maluf baiano, foi denunciado por um gravíssimo esquema de corrupção.
Ele deixou a vida política, mas depois usou todo o seu patrimônio midiático para se relançar como dublê de radiojornalista.
Pior: tentando comprar a confiança da sociedade baiana, Kertèsz tentou seduzir as esquerdas. Assim que as conquistou, as apunhalou pelas costas.
Esculhambou os jornalistas Emiliano José e Oldack Miranda que chegaram a ter condescendência com o astro-rei da Rádio Metrópole FM, a principal rádio do império doméstico do baronete midiático.
No plano nacional, destaca-se a reabilitação do ex-presidente Fernando Collor, sob o apoio escancarado da revista Isto É e com uma blindagem de midiotas no Orkut.
Collor virou outro dublê de esquerdista, até a máscara cair e ele votar pelo impeachment definitivo de Dilma Rousseff.
Para Eduardo Cunha sumir durante uns anos e voltar como pretenso progressista, vale o sabor das conveniências.
Por isso é que se deve ter cuidado diante da decadência dos corruptos.
A agressão física contra ele só pode complicar as coisas para quem protesta contra Cunha.
A direita vai promover os manifestantes como pretensos petistas, apesar da raiva da "atiradora" contra Lula.
E isso pode desmoralizar os protestos e fazer a sociedade brasileira voltar à letargia social dos anos 90.
Já existe gente querendo que o Brasil temeroso se transforme em mais um momento de calmaria social como nos tempos de Fernando Henrique Cardoso.
Um país adormecido, que regride de forma silenciosa e passiva. Isso será mal.
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