Racha no "funk". O ritmo que era a coqueluche dos intelectuais "bacaninhas" e das elites "descoladas" que queriam disfarçar suas neuroses elitistas apoiando o "funk" para dar a impressão de que eram "bonzinhos" para as classes populares, agora radicaliza seus dois discursos e cria dois "universos" diferentes.
A nova situação rompe com aquele contexto unificado em que o "discurso direto" e o "som mais cru" dos funqueiros transitava tanto nas favelas quanto nas boates da Zona Sul, cujo último exemplo foi o MC Guimê, ícone do "funk ostentação". Outro ícone dessa fase, o Mr. Catra, agora tem que se virar fazendo "rock dos anos 90" da linha rebelde-mas-inócua que a 89 FM e a Rádio Cidade gostam.
De um lado, o "funk" que sempre esteve de mãos dadas com o poder midiático - até quando tentava fazer crer o contrário - , se aproxima da tendência "funk melody", adotando uma postura mais "comportada", ainda que continuasse carregado no seu suposto apelo sensual.
Isso se reflete com a repaginação de Valesca Popozuda, que teve que desfazer de suas doses de silicone (ela chegou a aumentar as doses nos bustos e glúteos) e adotar uma postura "mais sóbria", mudando até mesmo o som, que era do "funk" mais cru, para o "funk melody", com claras intenções de competir com a "moderada" Anitta.
Além disso, o mercado já começa a lançar outra intérprete genérica, para talvez evitar cansar o mercado com apenas uma ou duas funqueiras. MC Ludmilla é o nome da vez, consagrando a aproximação do "funk" propriamente dito para o "funk melody", antes representado por poucos nomes, em especial Latino.
Já o discurso "raivoso" do "funk", que havia se destacado com o "funk ostentação", buscou se aproximar do "proibidão", facção do "funk" que exalta a violência e carrega demais nas baixarias. Ele sempre radicalizou no discurso já agressivo do "funk" em geral, e se nem a grande mídia quer o "proibidão", é porque ele é explícito demais para manobrar as massas de alguma forma ou outra.
Pois agora, com o desgaste do "funk ostentação" - que a ninguém convenceu com sua proposta de renegar o mercado exaltando os seus valores e o consumismo mais convicto - , o que se vê é a ascensão do "neo-proibidão", que em termos de agressividade, é mais radical que o "ostentação", mas não se sabe se é ou não mais "acessível" que o "proibidão".
O principal nome do "neo-proibidão" é o paulista MC Bin Laden, conhecido pelos sucessos "Bin Laden Não Morreu" e "Boiolo", que usa letras inspiradas em vilões de quadrinhos, jogos eletrônicos e noticiários. Recentemente, o DJ norte-americano Wesley Pentz, conhecido como Diplo, foi se encontrar com o MC depois de se apresentar no setor eletrônico do Lollapalooza.
O que se tem certeza é que o "neo-proibidão" é o refúgio daquela postura e discurso "puros" do "funk", que alegava resistir à chamada "higienização", que os "ativistas" do gênero acusavam do "funk melody". A fidelidade ao "discurso direto" era simbolizada até em Valesca Popozuda, mas esta, querendo agora agradar a alta sociedade, teve que lapidar o seu discurso e sua postura.
Com isso, o "funk" tão defendido pela intelligentzia na sua forma "crua", teve que se domesticar em função desse apoio. Contradições de um ritmo marcado pela própria contradição. E o que restou de "discurso cru" agora encontra seu refúgio no "neo-proibidão".
Não se sabe até quando isso vai dar. Mas, como virar a casaca é um passatempo dos funqueiros, daqui a pouco veremos MC Bin Laden abraçado à torcida do Flamengo cantando letras futebolistas e fotografado pelos jornais Meia-Hora e Expresso. Vide aquele imitador do Eminem, MC Guimê, que ostenta a si mesmo dentro dos circuitos midiáticos.
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